einstein (São Paulo). 01/jul/2014;12(3):7-15.

Pagamento para revisores de artigos científicos e comitês de ética

Jacyr , Sidney

DOI: 10.1590/S1679-45082014ED3259

Richard Smith, ex-editor do British Medical Journal, diz que a revisão por pares é difícil de definir em termos operacionais,() porém quase todos concordam que esse tipo de revisão é primordial para a prática da ciência. Esse processo pode ser conduzido de diversas maneiras. O editor, por exemplo, pode enviar o artigo para dois amigos que conhecem, ou não, o assunto. Se ambos forem favoráveis à publicação do artigo, este é publicado; porém se ambos forem contra, o editor é quem decide ou envia a um terceiro amigo para definir a questão (os editores, no início de suas carreiras, possuem muitos amigos, porém acabam perdendo muito deles após algum tempo no “ramo”). No artigo de Smith sobre revisão por pares publicado no Journal of the Royal Society of Medicine, há a menção a Robbie Fox, ex-editor da Lancet, que não era um admirador desse sistema de revisão e brincava dizendo que a Lancet escolhia os artigos que seriam publicados atirando todos manuscritos escada abaixo, sendo publicados aqueles que chegassem ao fim da escada. Além disso, o Dr. Smith cita que “uma revisão sistemática de todas as evidências sobre revisão por pares concluiu que essa prática é baseada, principalmente, na fé, ao invés de fatos…”

Todos sabem dos problemas que envolvem a revisão por pares. Ela é lenta: aqueles que concordam em realizá-la, o fazem em seu tempo livre. A maioria dos revisores não têm muito tempo livre, já que está sobrecarregada com pedidos de novas revisões, além de outras atividades. Ela é inconsistente: alguns artigos submetidos a um periódico são considerados excelentes enquanto outros nem mesmo são considerados para serem revisados por pares. Há muitos vieses e eles não são evitados pela revisão anônima. Na verdade, se os revisores são bem escolhidos e estão na área adequada, podem facilmente identificar os autores do artigo em questão ou, ao menos, a instituição a que eles pertencem. Alguns autores têm um estilo pessoal e, ao ler seus artigos, é possível identificá-los. Aos autores de instituições com menos prestígio – ou, por exemplo, que pertencem a América Latina ao invés do mundo civilizado – tem se o efeito Mateus: “àqueles que têm tudo, tudo deve ser dado; àqueles que não têm nada, o pouco que têm deve ser tirado deles”. Em outras palavras, aqueles que pertencem a essas instituições ou que não são conhecidos pelos revisores têm mais dificuldade de publicarem. Resultados negativos são difíceis de publicar, mesmo quando confrontam o conhecimento convencional, isto é, algo que todos conhecem como correto, mas que nunca foi e que, algumas vezes, não está realmente correto.

[…]

Pagamento para revisores de artigos científicos e comitês de ética
Ir para o conteúdo