einstein (São Paulo). 20/maio/2020;18:eED5758.

Há uma justificativa para o uso de heparina nos pacientes graves com COVID-19?

Felicio

DOI: 10.31744/einstein_journal/2020ED5758

A International Society on Thrombosis and Haemostasis (ISTH) propôs uma nova categoria para detectar a fase inicial da coagulação intravascular disseminada (CIVD) associada à sepse, chamada coagulopatia induzida por sepse. Os critérios incluíram contagem de plaquetas, tempo de protrombina e escore Sequential Organ Failure Assessment (SOFA).() Os pacientes com sepse e CIVD podem desenvolver complicações tromboembólicas ou deposição microvascular de coágulos, que contribuem para falência múltipla de órgãos.() A ativação de endotélio vascular, plaquetas e leucócitos resulta em geração desregulada de trombina, tanto sistêmica quanto local, nos pulmões de pacientes com pneumonia grave, levando à deposição de fibrina, com dano tecidual subsequente e microangiopatia.() Considera-se que a grave inflamação pulmonar da doença por coronavírus 2019 (COVID-19) seja associada à regulação de citocinas pró-inflamatórias. Ainda com base no modelo de trombose mediada pelo sistema imune, que destaca a relação entre este e a geração de trombina, o bloqueio de trombina pela heparina poderia reduzir a resposta inflamatória causada pela COVID-19.() Em publicação recente, Tang et al., avaliaram a mortalidade em 28 dias de pacientes graves com COVID-19, que usaram ou não heparina, com diferentes riscos de desenvolver coagulopatia induzida por sepse. Ao todo, 449 pacientes foram classificados como COVID-19 grave, e 99 receberam heparina – sendo 94 com heparina de baixo peso molecular (HBPM) e cinco com heparina não fracionada (HNF). Os autores observaram, em pacientes com escore ≥4 para coagulopatia induzida por sepse ou dímero D >3µg/mL, que os usuários de heparina tiveram taxas menores de mortalidade em 28 dias do que os não usuários. Concluíram que a terapia anticoagulante pode estar associada a melhor prognóstico em pacientes com COVID-19 grave, que atendiam os critérios para coagulopatia induzida por sepse, ou estavam com dímero D muito elevado.()

Apesar da relação entre fator tecidual e liberação de citocinas inflamatórias estar bem estabelecida na fase pró-coagulante da sepse, não se conhece a incidência de atividade pró-coagulante e trombose venosa profunda em pacientes criticamente enfermos com pneumonia grave pelo novo coronavírus.

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Há uma justificativa para o uso de heparina nos pacientes graves com COVID-19?
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