Diferenças entre grupos de clínicos e de cirurgiões a respeito do uso de antibióticos

O processo de decisão quanto ao uso de antibióticos está atrelado a determinantes sociais e culturais. Um artigo avaliou por meio de técnicas etnográficas (i.e., abordagem qualitativa) equipe de cirurgiões em pronto socorro e equipe de clínicos em hospital universitário em Londres .

As conclusões do estudo foram que em cirurgia, o tratamento com antibióticos é percebido como intervenção não cirúrgica e delegado aos mais inexperientes da equipe, pois os cirurgiões chefes, em geral, não estão na enfermaria – eles preferem a sala cirúrgica. Esse fato leva a prescrição defensiva de antibióticos, uso prolongado e inadequado desses medicamentos.  Diferentes abordagens devem ser adotadas pelas equipes cirúrgicas e clínicas.

O comentário de Szymeczak inicia com uma velha piada:

4 doutores vão caçar patos – um cirurgião, um médico de pronto socorro, um clínico e um patologista. Passa um pássaro e o clínico o analisa: tem pé de pato, plumagem de pato, faz quack – deve ser um pato. Contudo, é preciso mais dados – com isso, ele perde o ângulo de tiro e o pato se vai. Passa um segundo pássaro, e o emergencista  grita: é um ganso! é um pato! Não, é um  cisne! Não, é um pato, tenho certeza, dispara 5 tiros e erra todos, e o pássaro se vai. Um novo pássaro sobrevoa, o cirurgião dá um tiro, o pássaro cai e o cirurgião ordena o patologista – vá pegar o bicho e diga se é um pato (há uma extensão desta piada no Brasil – o patologista vai até a carcaça e declara: material insuficiente). Szymiczak discute os estereótipos profissionais e conclui que alguma coisa de real eles têm, e considera que estudos etnológicos como o de Charani et al  são importantes, assim como a adequação de táticas para garantir o uso adequado de antibióticos aos fatores sociológicos e culturais. O comentário final da autora é incisivo: cirurgiões são diferentes, e não é preciso uma caça à patos para perceber isso.

Mais um comentário do editor científico desta revista: pesquisas qualitativas de qualidade são raríssimas e dificilmente publicáveis em revistas com peer-review adequado.

 

Charani E, Ahmad R, Rawson TM, Castro-Sanchèz E, Tarrant C, Holmes AH.

The diferences in antibiotic decision-making between acute surgical and acute medical teams: an ethnographic study of culture and team dynamics.

Clin Infect Dis. 2019;69(1):12-20. https://doi.org/10.1093/cid/ciy844.

 

Comentário deste artigo:

Szymeczak JE. Are surgeons different ? The case for bespoke antimicrobial stewrship. Clin Infect Dis. 2019;69(1):21-3. https://doi.org/10.1093/cid/ciy847.

 

Diferenças entre grupos de clínicos e de cirurgiões a respeito do uso de antibióticos
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