Os níveis de aparecimento de bactérias multi-resistentes deveria gerar um mercado para novos antibióticos. Entretanto, o numero absoluto de infecções por tipo de germe multirresistente é relativamente pequeno e cada antibiótico desenvolvido com esta finalidade compete em um mercado pequeno e fragmentado. Recentemente, o fabricante da plazomicina, um antibiótico útil para germes multirresistentes, a Achoeon, declarou falência.

Há incentivos para a Big Pharma desenvolver novos antibióticos, mas essas companhias alegam precisar de vendas da ordem de pelo menos dezenas de milhões de dólares por ano para justificar o investimento para seus acionistas.  Nenhum antibiótico vai vender como as estatinas. Por outro lado, as organizações sem fins lucrativos não tem acionistas e sofrem menos pressões para aumentar preços dos medicamentos, podem se desenvolver e ter lucro com volume menor de vendas. Os tradicionalistas podem argumentar que empresas sem fins lucrativos não vão ter capacidade de inovação. Pode até ser, mas Big Pharma não tem mostrado capacidade de levar a inovação ao uso clínico. Pedir subsídios para que estas firmas pode conflitar com a pouca apreço público que tem e podem aumentar os riscos que empresas peçam subsídios para outros tipos de drogas.

Acredito que há necessidade de um modelo alternativo para um desenvolvimento sustentável de descobertas de novos antibióticos e isto já está atrasado, também, considero que organizações sem fins lucrativos  devem ser procurados para esta finalidade.

Nota do editor: Em nenhuma parte do artigo os autores consideram empresas estatais como uma alternativa possível. A nossa experiência no Brasil com estatais sugere que os autores tem razão: este tipo de organização não tem fins lucrativos, mas está atrelada a injunções politicas e outras questões, além disso, dentro do que se saiba, não há registro de nenhum antibiótico que organizações tenham desenvolvido.

Nielsen TB, Brass EP, Gilbert DN, Bartlett JG, Spellberg B. Sustainable discovery and development of antibiotics – is a nonprofit approach the future? N Engl J Med. 2019;381(6):503-5. https://doi.org/10.1056/NEJMp1905589.